lunedì 4 febbraio 2008

Ícaro

«Ausente de mim, quando estiver cansado de ti, sem saber para onde fugir, tu estarás no meu tremer de frio que não existe, no sorriso do meu rosto de alcóol, no meu susto de estar vivo. Uma agulha costura os orgãos uns aos outros para que a dor não se espalhe pelo corpo. A dor, este feixe de nomes vibrando junto ao coração. Um dia estarei longe, muito longe de mim e de ti. Terei perdido o corpo que te sente, irremediavelmente.»
Al Berto


No dia em que tiver que te dizer adeus afogarei a minha alma no sal de todas as lágrimas que fizeste desaparecer. Não mais ficarei nesta terra e voarei em direcção ao sol para lá descansar sem qualquer esperança de ressurreição.
Não quero voltar, não posso acreditar no homem nem no mundo. Os deuses abandonaram-nos há muito e das nossas mãos soltaram-se as cordas com que comandávamos os planetas. Nesta viagem desenfreada que iniciámos contra todos os vendavais, perdemos as rédeas na boca do destino, monstro ávido de pele quente, da respiração sufocada no ouvido, das palavras escondidas noite dentro, das mãos que se fundem no aglomerado de todos os cegos que um dia nos rodearam. Tu mantens-te nessa viagem sem te dares conta que me perdeste pelo caminho, algures, pela lentidão do teu tempo, eu tombei e a minha queda foi o eco do teu nome.
Tu continuas, continuarás hoje e sempre num tempo que é só teu, onde nas tuas mãos nascem melodias infinitamente tristes e morre o amor.
Por isso fujo da noite que tanto venero e vôo em direcção ao sol, acreditando ainda que sou um anjo. A ele entrego as asas dos meus sonhos onde se extinguirão num só sopro como eu extingui a tua chama.