lunedì 24 settembre 2007

«Sobre uma bala dirijo-me ao meu deus, alguém criado pela minha própria ilusão. Gostaria de lhe dizer que estou no inferno e que grito todos os dias, talvez porque viva apenas com a esperança de alguém me olhar.
Não durmo, não consigo tirar tempo ao que me resta para conhecer os meus pensamentos, certezas não tenho. Apenas sei que a morte vai surgir de repente e, a sorrir, oferecer-me a paz.
Desejaria rezar para sobreviver, mas sei que não basta fechar os olhos para fugir à própria tragédia. Afinal estou morto de mais para poder morrer, acreditei ter força suficiente para não me asfixiar, apenas pude suspirar quando quis soltar um grito. Morri no instante em que pensei ter começado a viver, porque não era possível continuar vazio por dentro. Desconhecia (talvez) ter nascido para não viver, cortei-me e a felicidade foi a primeira coisa a sair de dentro de mim. (...)
O tempo passa depressa, o dia esvai-se dentro de mim, os primeiros traços de escuridão de há uns meses ocupam cada vez mais espaço. Na mais profunda solidão espero ser livre, desesperado e abandonado choro, não tenho forças para lutar por muito mais tempo.(...)»

Excerto das cartas de Miguel (in As lições do Abismo de Daniel Sampaio)


Caminhar por estradas escusas, sem temer as trevas. A maior escuridão encontra-se dentro de nós. Open your eyes and see.

Never forget!

P.S. «Il faut prendre les leçons d'abîme», Júlio Verne

sabato 8 settembre 2007

Away, never far enough

Esta cidade sufoca-me. É uma caixa de vidro cujas paredes avançam lentamente sobre mim e o vidro fala-me, toca-me, enlaça-se em torno do meu corpo e rouba-me os movimentos, tolhe-me a funcionalidade do pensar, acelera-me a respiração num aviso de que será a última vez. As pessoas desta cidade estrangulam-me. Abatem-me as crenças, laminam-me os sorrisos e extraiem-me as lágrimas que bebem por largas e aúreas taças com que vão brindando numa orgia de sussurros.
Esta cidade define-me e definha-me, abraça-me e pune-me, lê-me como se eu fosse personagem de um livro que passa de mão em mão. Aqui a distância não o é, encurta-se a cada música que ouço, a cada palavra que apago no papel para em seguida a escrever sob a minha pele, a cada página em branco que viro com as mãos manietadas pela memória.