mercoledì 6 giugno 2007

Encantação


Contemplato per La Tempesta


Apetece-me o ódio a rasgar a pele, a entranhar-se na língua, a provocar o vómito acompanhado das lágrimas. Apetece-me as mãos encrespadas de garras afiadas rasgando a carne em dilacerante amor, a tesoura a passear pelos cabelos em cortes decididos junto à pele marmórea e doente. Apetece-me os olhos entreabertos em flamejante raiva e a vontade da morte a subir-me à garganta irrompendo num grito, meu, neste monte que habito onde todas as manhãs os vendavais me batem à porta. Desejo que o corpo se separe da alma e corra pela noite dentro em perseguição do sorriso que consigo cheirar, anseio que o sangue usurpe a paz momentânea que a minha mente adivinha e os olhos ausentes não me mostram e eu desejo... e eu anseio... que pelo negrume que tapou a lua os meus pensamentos ecoem como almas que dançam à volta das campas sem que ninguém as veja, que a minha lembrança assombre os sonhos, que o meu veneno invada as narinas e intoxique cada respirar. Que seja a minha imagem dilacerada e esquecida as notas que se transformam em música, que estas cordas que me orquestram os pulsos se soltem jamais, que os demónios fiquem aninhados no âmago e plantem o infortúnio, a desgraça, o amor traído, a dor inconsumível. Apetece-me que tudo o que foi construído rua num simples sopro, desabe a cada promessa de felicidade, que tudo se esvaia por entre os dedos... ao alcançe da mão.
Que no último respirar seja a minha mão que leve a escuridão.

A ouvir Too Cold For Tears - Swallow The Sun

1 commento:

The Poisonous I ha detto...

Apetecia-me que não te tivesse apetecido tanto. Quero dizer: que te apetecesse (mais do que esperar, ou antecipar, os vendavais) uma ida ao campo, um passeio à beira-mar, enfim, ambos os lados da medalha. Mas quem sou eu para falar disto com imparcialidade. É tudo uma questão de perspectivas. Vá-se lá é saber porquê, há quem não consiga - ou não queira, talvez vá dar tudo ao mesmo - escolher o ponto de vista mais agradável, como, por exemplo, as almas obscuras. E nós, felizmente, somos assim. A vida ganha sabor. Encanto, se quiseres.

Tenho andado a ler alguma - excelente! - poesia de Manuel Bandeira, pelo que me sinto autenticamente inebriado. Vou mas é deitar a carcaça, que isto daqui a nada é o nada de (a)manhã.

Beijoca amiga!

P. S. Se me permites... talvez precisasses mesmo era de um lobo mau... que, pelo que vejo, farta de porquinhos deves andar tu! :)

P. P. S. A mão, se se pensar bem nisso, não leva a escuridão... ela é - a escuridão.