martedì 27 febbraio 2007

É a terra, que sulcas, a cama em que te deitas. Submerges ao olhar passivo, perdes-te na impunidade das frases e viras as costas à alma que se prostra perante a tua dor. Em noites que não findam as palavras desaparecem no código do silêncio.
E é fácil jogar com a vida, sabendo que a morte virá no momento exacto em que decidires respirar.

venerdì 16 febbraio 2007

Doomed

A marca permanecerá até ao final da vida como a conheço. Por todos os tempos a dor não será esquecida, será bradada a cada esquina, em cada uivar do vento, em todas as paredes imprimirei as minhas mãos vazias, carregarei o negro que me cobre até ao olhar e a mágoa será o meu estandarte. Porque no fim dos séculos e quando chegar a luz que engolirá o mundo, eu gritarei mil vezes o teu nome e tu caminharás por vento e por fogo, em todos os milénios a que a tua alma voltar e... quando, o meu nome gatinhar ferozmente pela tua garganta para poder respirar e inflamar-se de vida, será um grito de agonia e tu, eternamente, serás pranto e esquecimento.
Por todos os tempos. Em todos os tempos. Até ao final dos tempos.


sabato 10 febbraio 2007

In silentium

As paredes grotescas desse castelo, em que definhas, gritam de dor.
Eu estou do lado de fora, acariciando a pedra rugosa, fria e intransponível. Ouço o deslizar das tuas lágrimas ao compasso com que dedilhas as cordas de aço que não consigo desentrelaçar.
Continuo do outro lado da porta, a fronte encostada à madeira como se assim me conseguisses sentir porque, daqui, eu vejo a luz disforme que te acompanha.
À noite, frente a frente com a ilusão , ouço-te cada inspirar e fecho os olhos à espera que a tua imagem se preencha de negro, cada contorno retocado, cada lágrima contida no silêncio.
Quando as ameias ruírem pela erosão da futilidade e as bonecas de porcelana perderem a côr, desce as escadas, empurra a pesada porta com a força que te restar, ergue aos céus o teu olhar e vem acordar-me sob o manto negro em que, sonolentamente, te tenho aguardado.




lunedì 5 febbraio 2007

Os braços escudam o corpo-fetal-despido, as pálpebras em fogo descem, os joelhos, nús, magoados do "caminhar", aproximam-se da boca e os lábios secos, da privação, entreabrem-se. O instinto primordial manda lamber as feridas.
A água desce sobre os ombros, enquanto o corpo se enrosca mais e mais como se daí surgisse o vislumbrar de um novo amanhecer. Aqui, entre estas quatros paredes, é o santuário a que os anjos de asas negras não chegam, aqui as preces que se verbalizam não pretendem ser escutadas, brotam dos cortes da descrença e a voz é o silêncio, aqui pode chorar-se sem se ser observado, sem ter que explicar aquilo que não se coloca por palavras, sem ter que mostrar esta dor que consome, que impera, que lateja aos ouvidos numa surdez momentânea.
E a água desce sobre os ombros e o corpo enrosca-se mais e mais, e já não se acredita num novo amanhecer, mas aqui, nesta redoma de vapor quente o corpo aquieta-se e não espera.
Aqui, questiona-se o nascimento, a existência, a divindade, o abandono. Acarinha-se e amaldiçoa-se a mesma lua de uma só noite e isto não se explica, aqui reside um só corpo na presença dos milhares que se foram, a exposição a todos os males, o observar extasiado do veneno que se sabe percorrer as veias, aqui grita-se sem se ser ouvido.
E a água desce sobre os ombros, ininterruptamente, lavando o corpo, somente o corpo... Aqui ouve-se a mesma música vezes sem conta, chamam-se as lágrimas, arranham-se os braços e traçam-se objectivos que nunca vão ser atingidos, mas não há medo, porque aqui, os anjos de asas negras não entram, não se sentam a contemplar a miséria que cobre a pele. Porque, neste silêncio inundado de luz, neste ritual de pureza momentânea, prepara-se uma nova caminhada... ainda que para o fim.

venerdì 2 febbraio 2007

Chama-me...

Ouve-me no vento, nas chamas, nos mares que se erguem para amortalhar, na chuva de pedra, nas águas que invadem a terra e reclamam o que um dia foi seu.
Estou em tudo o que tocas ainda que não queiras.
Sou eu que te percorro as veias, que te queimo o peito, que te atormento as noites numa febre insone, que deslizo sobre a tua pele e te sugo toda e qualquer gota de esperança.
O ar que respiras sou eu que to exalo, cada vez que o teu peito se ergue são as minhas unhas que asfixiam o teu coração.
Se o deixares ficar nelas irá arder? Aguarda e escuta... e sente que, apaixonadamente, sempre te mantive enlaçado em mim, eu engoli toda a miséria que quis corroer-te a alma.
Eu mantenho-me dentro de ti e sentes-me intoxicar-te...
Ouve-me clamar o teu nome nas cordas que percorres suavemente sem saber que é na minha boca que mergulhas os dedos, vê-me naquele momento em que o sol te cega, nos teus pesadelos sou o sonho que tentas alcançar, caminha para mim ainda que saibas que o única abraço que te oferto seja marmóreo.
Vem até mim sem esperança, com os olhos cegos de mágoa, porque na noite é a mim que a tua dor chama porque nenhum outro ser a ouve... esquece o que resta, porque eu comando os mundos que conheces, eu aniquilo os que se cruzam no teu caminho pois a tua imagem é a sublimação e contrasta ironicamente com os teus semelhantes.
Eu sou as palavras da noite que lês quando as lágrimas te permitem.
Eu sussurrei o teu nome à exaustão e com ele erigi impérios, exaltei as águas, cobri a terra de trevas para que pudesses caminhar sem igual. O teu nome está inscrito em todos os tempos, foi a última palavra que Cristo ouviu antes da carne se rasgar uma derradeira vez, o teu nome é entoado por cada mãe que embala o filho, por cada homem que perece abandonado sem força para continuar, por cada faca que perfura, a cada lágrima que surge na última gota de pureza que se esvai. O teu nome sou eu que o escrevo a sangue nos céus, sou eu que o profiro em cada voz que te chama, porque te profetizei um reino intransponível e único.
E a tua dor escolheu-me para alcova porque os meus braços são as asas de mil corvos que invadem os céus e usurpam a noite para te embalar na mais negra das melodias.
Ouve-me, chamo-te como sempre ansiaste.
Porque sempre soubeste... que há um preço a pagar pela beleza.