venerdì 2 febbraio 2007

Chama-me...

Ouve-me no vento, nas chamas, nos mares que se erguem para amortalhar, na chuva de pedra, nas águas que invadem a terra e reclamam o que um dia foi seu.
Estou em tudo o que tocas ainda que não queiras.
Sou eu que te percorro as veias, que te queimo o peito, que te atormento as noites numa febre insone, que deslizo sobre a tua pele e te sugo toda e qualquer gota de esperança.
O ar que respiras sou eu que to exalo, cada vez que o teu peito se ergue são as minhas unhas que asfixiam o teu coração.
Se o deixares ficar nelas irá arder? Aguarda e escuta... e sente que, apaixonadamente, sempre te mantive enlaçado em mim, eu engoli toda a miséria que quis corroer-te a alma.
Eu mantenho-me dentro de ti e sentes-me intoxicar-te...
Ouve-me clamar o teu nome nas cordas que percorres suavemente sem saber que é na minha boca que mergulhas os dedos, vê-me naquele momento em que o sol te cega, nos teus pesadelos sou o sonho que tentas alcançar, caminha para mim ainda que saibas que o única abraço que te oferto seja marmóreo.
Vem até mim sem esperança, com os olhos cegos de mágoa, porque na noite é a mim que a tua dor chama porque nenhum outro ser a ouve... esquece o que resta, porque eu comando os mundos que conheces, eu aniquilo os que se cruzam no teu caminho pois a tua imagem é a sublimação e contrasta ironicamente com os teus semelhantes.
Eu sou as palavras da noite que lês quando as lágrimas te permitem.
Eu sussurrei o teu nome à exaustão e com ele erigi impérios, exaltei as águas, cobri a terra de trevas para que pudesses caminhar sem igual. O teu nome está inscrito em todos os tempos, foi a última palavra que Cristo ouviu antes da carne se rasgar uma derradeira vez, o teu nome é entoado por cada mãe que embala o filho, por cada homem que perece abandonado sem força para continuar, por cada faca que perfura, a cada lágrima que surge na última gota de pureza que se esvai. O teu nome sou eu que o escrevo a sangue nos céus, sou eu que o profiro em cada voz que te chama, porque te profetizei um reino intransponível e único.
E a tua dor escolheu-me para alcova porque os meus braços são as asas de mil corvos que invadem os céus e usurpam a noite para te embalar na mais negra das melodias.
Ouve-me, chamo-te como sempre ansiaste.
Porque sempre soubeste... que há um preço a pagar pela beleza.

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